(Tradução de Cláudia Salgueiro.)
O admirável poeta Blas de Otero exclamou, angustiado: “Aqui nem Deus se salva, assassinaram-no.”
E o grande filósofo e poeta niilista Nietzche disse, reflexivamente: “Deus está morto, quem o matou? Todos nós o matámos.”
Nietzche também costumava dizer: “Todos os deuses devem morrer”. Embora eu pense que, a mais do que deuses determinados, ele se referia à ideia de Deus em cada interpretação diferente e singular das múltiplas religiões que existiram e ainda existem.
Mas para mim é impossível assassinar Deus, simplesmente porque ele não existe, nem nunca existiu, apenas a ideia opressiva de Deus existiu historicamente.
O que pode ser morto ou assassinado —e de facto já está a ser morto (felizmente)— é esta ideia de Deus, fabricada por alguns homens para que outros a assimilassem. Infelizmente, porém, ela está a ser substituída por uma nova ideia de Deus: o consumismo e o crescimento económico-oligárquico-global-indefinido.
Em todo o caso, na minha opinião, se existe um deus, será —ou melhor, só pode ser— a natureza, a biosfera, a Pachamama, o nosso ambiente, incluindo os nossos semelhantes, um deus que teremos de cuidar e venerar se quisermos não só sobreviver, mas também viver bem, com saúde e felicidade.
Mas os nossos dirigentes, que paradoxalmente pensamos ter eleito democraticamente, são os que —aliados submissos das mega-corporações— estão a assassinar esse Deus, essa Pachamama, o nosso ambiente natural e saudável. E é um assassinato que é cometido —de forma voraz, contínua e suicida— por estes líderes e mega-corporações, com uma potente glorificação do crescimento económico-oligárquico-global-indefinido.
Na realidade, essa glorificação não passa de uma glorificação do assassinato de toda a vida à superfície do nosso planeta Terra.
