Corenta tons de gris. O dilema da Humanidade

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In aliis linguis

(Este artigo é umha adaptaçom de umha charla que o autor apresentou no Dia da Terra em Salina, Kansas, no 23 de abril de 2018, e foi publicado originalmente no site da MAHB da Universidade de Stanford. Traducçom: Antom Santos. Revisom: Manuel Casal Lodeiro.)

D'où Venons Nous / Que Sommes Nous / Où Allons Nous
Paul Gaugin: D’où Venons Nous / Que Sommes Nous / Où Allons Nous (1897)
No quadro decimonónico que figura à direita, Paul Gauguin adopta umha visom unificada da espécie, como se se perguntasse: “De onde é que vimos? Quem somos? Aonde imos?” Somos a primeira geraçom da nossa espécie (de todas as espécies do planeta) em conhecer cientificamente as respostas a tais questons. Temos chegado a um diálogo de espécie. Um diálogo de implicaçons planetárias.

Há 11000 anos, aproximadamente, no remate da última idade do gelo, os nossos devanceiros —em nom menos que cinco lugares arredor do mundo— aproveitárom as novas condiçons e ensaiárom um modo de vida agrário. A passo ágil, e atravessando duas mudanças memoráveis na história humana (a revoluçom agrária e a industrial), chegamos até aqui: achegando-nos aos 8000 milhons de pessoas, na procura de liberdade, experiências e riqueza material derivada do nosso excedente físico. Como muitas pessoas já sabem, a procura deste excedente também tem impactado num ámbito mais vasto do que as nossas moradas: o que nós chamamos Terra foi atingida de maneira cada vez mais prejudicial. Ainda com isso, e com um crescimento anual do 3%, segundo esperam a maioria de governos e de instituiçons, duplicaríamos em 25 anos o nível de consumo de energia e materiais que nos levou 11000 anos acumular.

De seguirmos as tendências actuais, um estudante universitário de hoje poderia assistir a duas duplicaçons do seu tempo de vida (com efeito, un tamanho duplo-quádruplo para quando ele ou ela alcançar os 70 anos). É possível tal cousa? É mesmo desejável? Quais som as variáveis que influirám nesta trajectória? Quais seriam os impactos se tal cousa acontece? E se nom acontecer?

Se você perguntasse a cem expertos para eles opinarem sobre estas questons, você iria obter quanto menos cem respostas; pois enquanto a economia se compom de sistemas, nom se explica através de sistemas, senom através de narrativas simples, normalmente populares. Mas apenas umha síntese que integrar aspectos energéticos, ambientais, económicos e condutuais poderá deitar luz sobre o que é improvável, sobre o que é possível, sobre o que está em jogo, e finalmente, sobre aquilo polo que cumpre luitar e trabalhar.

A seguir sintetizamos vários dos grandes assuntos relevantes nas vindouras décadas para o que eu chamo a empresa humana. Apesar do nosso desejo por respostas simples e claras, as mais das questons que afrontamos neste momento crítico nom podem ser esclarecidas com respostas binárias de branco e preto; antes disso, as respostas permanecem no espaço liminar entre ambos os polos. As nossas instituiçons e sociedades estám habitualmente longe da nossa realidade biofísica no que diz respeito a estes corenta tons de gris que apresento. Isto quer dizer que certas mudanças radicais no ámbito cultural vam acontecer provavelmente num horizonte de curto-médio prazo. (Observe-se que este é o relato num plano horizontal; existe também umha profundidade vertical disponhível para a análise em cada um destes pontos).

Antom Santos

Energia / Economia

Energia / Tudo o resto

A riqueza e a produtividade humanas atribuem-se comumente à nossa esperteza (tecnologia), riqueza existente (capital) e laboriosidade (trabalho). Estes inputs som importantes, mas em troca som todos eles dependentes da energia. A economia moderna consome energia como os animais consomem alimento: cada objecto e cada serviço nas economias humanas requerem um input energético para o converterem nalgumha cousa útil. Portanto, 1$ de petróleo tem muitissimo mais valor do que 1$ de lápizes, clips ou bolos. Mas a energia, além talvez do seu preço em dólares, é invisível na nossa sociedade.

Fluxos / Recursos

A economia humana alimenta-se de recursos naturais tais como o cobre, o ferro e o fósforo. Globalmente, 1$ do PIB provém de ~1kg de minerais extrazidos, energia e materiais. Nós somos particularmente dependentes de recursos de alta densidade energética tais como petróleo ou gas natural, e dumha perspectiva de longo prazo estamos a viver durante o que poderia ser chamado do Pulso do Carbono, umha injecçom de produtividade fôssil inserida no ecossistema humano. O 98% do trabalho físico no mundo moderno está realizado por máquinas, máquinas que em troca estám alimentadas num 85% por compostos de carbono de alta densidade energética. Poucos pensam nisso, mas um barril de petróleo cru de 5,8 milhons de Unidades Térmicas Británicas, polo que nós pagamos actualmente 70$, contém o equivalente de 4,5 anos de trabalho humano, polo que nos Estados Unidos pagamos hoje 140000$. O americano médio utiliza 54 desses barris por ano directamente, com ums adicionais 10-20 em forma de bens importados, equivalentes a ~300 escravos fósseis que fam possível o nosso estilo de vida. Com efeito, embora nós ingerimos ~2500 calorias através dos alimentos, cada um de nós consome 200000 totais por dia. A nossa cultura, de facto, trata todos esses inputs geológicos como fluxos (tais como os rios, a chuva, a luz do sol, o crescimento das árvores), mas eles na realidade som stocks que se esgotam. Nenhum recurso natural é renovável nas escalas do tempo humano. Cavar buracos nom é sostível. A nossa tradiçom cultural confunde recursos (stocks) com fluxos.

Stocks / Abstracçons

Os stocks (petróleo, cobre, fósforo), seguem habitualmente curvas gaussianas preditivas: elas ascendem, chegam ao seu teito e logo debalam. A cantidade total desses recursos aos que acedemos tenhem-se acrescentado durante um século, mas é agora que debalam nos mais dos casos (qualidade do petróleo, lei do mineral de ferro, ganga de cobre, etc.). Mas a nossa fonte de dinheiro e crédito continua a se incrementar sem nenhuma referência à curva que nos indica os recursos disponhíveis, isto é, às dotaçons de stocks finitos com que contamos (globalmente, precisa 4$ de nova dívida acrescentar cada 1$ do PIB adicional em 2017). Podemos imprimir dinheiro, mas nom podemos imprimir energia; só podemos extrazê-la com maior rapidez utilizando dinheiro emprestado.

Bruto / Neto

Comumente levamos em conta a volume absoluto dum recurso, stock ou reserva disponhíveis, sem considerar o volume do mesmo que pode ser técnica ou economicamente extrazido. Quando nós acedemos aos recursos mais fundos —os mais difíceis de topar, e com maiores custos ambientais— nós esbanjamos um volume crescente de recursos chave para conseguir, paradoxalmente, mais recursos chave (por exemplo, o debalar do gas de esquisto nos campos estadounidenses é dum 30-40% anual; portanto, a produçom vai estar mais em funçom de quantos novos poços som aproveitados). Vimos de abandonar a era histórica onde a nossa cultura gastava ~5% da nossa energia em topar e fornecer energia, para adentrarmos numha outra onde estaremos a gastar ~10% ou mesmo do ~15% ao ~20%. Isto manifesta-se em custos mais altos e lucros menores para as pessoas e para a economia. Quanta maior energia é redirigida para o sector energético, quais serám os sectores que fiquem com menos ou nenhuma energia? O neto vem sendo, ao cabo, o que nós somos quem de gastar.

Júlios / Trabalho

A energia apenas pode ser substituída por outra energia. O pensamento económico convencional, ao olhar para os recursos nom renováveis considera as possibilidades de substituiçom como potencialmente infinitas. Mas nom todos os júlios tenhem um mesmo desempenho. Há umha grande diferença entre energia potencial e energia cinética. As propriedades da energia som tais como: intermitência, variabilidade, densidade energética, densidade de potência, distribuiçom espacial, retorno de energia sobre a energia investida, escalabilidade, transportabilidade, etc. Todo isto leva-nos a pensar que a substituiçom energética tem umha difícil perspectiva. A habilidade dumha tecnologia para fornecer júlios é diferente que a sua habilidade para contribuir para o trabalho para umha sociedade. Todos os júlios nom contribuem igualmente para as economias humanas.

Economia / Economia académica

O moderno ecossistema humano pode ser descrito com singeleza. Nós utilizamos tecnologia para converter energia e materiais em produtos medidos em dólares. Nós viramos os dólares/produtos em neurotransmissores (sentimentos) + gasto/impacto. Repita você isto numha escala maior. Amiúde confundimos umha tendência por umha realidade, e um modelo de curto prazo por um axioma da natureza. Num caso moderno (e relevante), temos construído normas e leis económicas arredor dum tempo que é longo em termos de vida humana, mas curto na escala de tempo histórico; nesta escala, devido aos grandes inputs nom renováveis obtidos em escalas geológicas, temos experimentado um crescimento económico contínuo durante um século. O crescimento constante que experimentamos estava em correlaçom com as invençons humanas e as teorias económicas, mas a causa final está no achádego de umha imensa injeçom de energia fôssil produzida pola luz solar. Comportamo-nos como esquios a viverem numha fraga onde se tivesse acidentado umha carrinha ateigada de avelás, a consumirem a carga e a pensarem que vai durar para sempre. As teorias económicas batêrom certo —até há pouco— ao descrever a nossa trajectória, mas partindo de razons erradas: ignorárom delongadamente os alicerces físicos e biológicos do esforço humano,por isso devem de ser enxergadas de novo.

Condutual

Humano / Animal

Os humanos somos inteligentes, únicos, adaptáveis e muito capazes. Si, nós somos especiais, mas somos parte do mundo animal, parte da linhagem dos mamíferos e primates. O nosso repertório condutual é abraiante, mas ainda com isso está constringido e informado pola nossa herança.

Próximo / Último

Porque queremos esse trabalho? Porque desbaldimos tempo no Facebook? Porque gostamos dos lucros da bolsa de valores? Porque nom gostamos de tal pessoa? Porque queremos jogar com bonecas? Porque fazemos a guerra? Há explicaçons directas —ou superficiais— para todos estes comportamentos, mas há também explicaçons últimas baseadas no nosso passado ancestral. Estas explicaçons últimas podem predizer e desvendar o sentido da maioria do comportamento humano moderno. Ao cabo, nós vivemos as nossas vidas quotidianas na procura de gratificaçons tecnológicas, actividades, experiências e comportamentos no mundo moderno que fornecem os mesmos sentimentos que os nossos exitosos antecessores tiveram num entorno diferente.

Crenças / Factos

O cerebro humano pode imaginar e exprimir muitas mais combinaçons de palavras a representarem umha realidade mais ampla da que existe. Como tal, o mundo virtual nas nossas mentes semelha mais real para nós mesmo à luz da ciência, da lógica e do sentido comum. E desde que nós construímos os nossos próprios mundos virtuais individuais, nós preferimo-los mesmo sobre os mundos virtuais nas mentes dos outros. Velaí porque as crenças som bem mais poderosas do que os factos. As crenças decote precedem as razons utilizadas para as explicar. Isto ajuda a entender porque as notícias falsas funcionam, e porque achamos extremadamente difícil convencer a gente da mudança climática, a descida energética, os limites do crescimento…

Hoje / Amanhá

Somos criaturas biológicas com tempo de vida finito. Por boas razons evolutivas, preocupamo-nos desproporcionadamente sobre o presente mais que polo futuro. Mas a maioria dos nossos desafios topam-se no futuro.

Anormal / Normal

A tecnologia moderna fornece estímulos em magnitude bem maior que aquelas que enfrentavam os nossos ancestros ao procurarem semelhantes sensaçons. Para eles, um amorodo descoberto numha corredoira era umha lambetada surprendente, enquanto nós compramos lambetadas ao peso na loja da rua, ou pedimo-las através de Amazon. Nós podemos ser raptados e virar aditos a cousas que sentimos como importantes, mas que ao cabo tenhem apenas umha incidência no cerebro, nom na realidade.

Relativo / Absoluto

Adaptaçom, na natureza, correlaciona-se com a quantidade de calorias ingeridas por unidade de esforço. Todos e todas nós seguimos este singelo algoritmo da coleçom, mediado por um neurotransmissor que se chama dopamina, para conseguir mais por menos. Mas umha vez que se cobrem as necessidades básicas, este algoritmo muda radicalmente para nos preocuparmos mais em termos comparativos da nossa actividade; isto é, sobre os nossos logros em matéria de ingressos, status ou classificaçom na escala social, face outras pessoas que medem o mesmo assunto. Portanto, nós nom nos preocupamos tanto com o bom e o mau como com o melhor ou pior: respeito à nossa vizinhança, ou respeito ao que éramos o dia antes.

Desejo / Possessom

O nosso pulo para querermos algumha cousa —um par de sapatos, um carro, um gadget— sentem-se com maior intensidade que a satisfaçom que obtemos ao possuir tal cousa de maneira permanente. Isto é o motivo de que os nossos faiados, e as nossas unidades dixitais de armazenamento, estém repletos dos fantasmas da dopamina do passado. Enquanto o nosso mundo físico está baseado em reservas, o nosso cerebro e o nosso comportamento estám baseados em fluxos, que precisam de ser experimentados decote, ao longo de cada dia.

Querer / Precisar

Umha vez que as nossas necessidades básicas (comida, água, serviços básicos, respeito social) som asseguradas, nós achamos pouca satisfaçom adicional em incrementar o consumo. As melhores cousas na vida som debalde, mas o anseio é umha motivaçom humana muito forte.

Eu / Nós

Somos umha espécie biológica, e como tal, no espectro da concorrência face a cooperaçom, nós habitualmente procuramos sermos os número 1 —nós e a nossa família— por diante de todos os outros.

Nós / Eles

O nosso período de formaçom como espécie, que foi milenário, decorreu em pequenas tribos nómades na sabana africana. O sucesso da nossa tribo na caça, adquisiçom de recursos e defesa contra outras tribos ditou —e amiúde dominou— o nosso sucesso individual. Este favorecimento dos grupos próprios, em detrimento de grupos externos condenados ao ostracismo —pola sua diferente religiom, grupo político, desportos de equipa ou mesmo polas suas opinions divergentes sobre o futuro— permanece com nós a dia de hoje.

Genes / Cultura

A natureza humana nom muda no curto prazo: o nosso tataraneto, que vivesse em douscentos anos, estará sujeito aos mesmos estímulos e constrangimentos que venho de mentar. Mas a cultura pode manifestar comportamentos emergentes, quer positivos, quer negativos, que podem configurar-se em jeiras mais curtas, mesmo menores dumha década, em alguns casos. Os nossos gens dim-nos o que nos precisamos, mas a cultura dita-nos como acadá-lo. Podemos acadar alo menos umha boa porçom do que queremos e precisamos utilizando menos cousas com menos custos.

Ambiental

Interno / Externo

Na moderna formulaçom do sistema de mercado, internalizamos benefícios e externalizamos custes. Os custes —de poluiçom, ou os impactos sociais negativos— nascem do ámbito comum e do ámbito estatal, e incluem outras geraçons e outras espécies. Nenhuma indústria no mundo iria ser aproveitável se o seu preço total incluísse todos os custes externalizados (por exemplo, os impactos daninhos da produçom de carvom [para geraçom elétrica] resultariam num custe total de 0,38$ do kWh no canto de 0,04 $). Mas a maioria das outras espécies nom se preocupam sobre externalidades, e assim como nós chegamos a ser cientes dos efeitos que acarrejamos, também temos feito mais para respondermos aos custos. Alguns exemplos relevantes incluem o DDT, os clorofluocarvonatos, os ríos poluídos e a gasolina sem chumbo. Mas o CO2 continua a ser um impacto que nom pode ser internalizado facilmente.

Tesouro / Riquezas

As vastas riquezas ecológicas do nosso mundo natural —jazigos minerais, milhons de espécies, ecossistemas dinámicos, bosques húmidos exuberantes…— apenas se levam em conta como valor para as economias humanas, umha vez que se transformam para o seu aproveitamento. Na nossa procura do tesouro, temos saqueado as nossas riquezas, e o plano que temos tracejado continua com a mesma perspectiva.

Civilizaçom / Comunidade

Na actualidade, os humanos apropriamo-nos do 30-40% da produtividade anual derivada da luz solar na sua interacçom com a terra do nosso planeta. Como acréscimo, nós (e as nossas vacas, porcos, cabras, cans, ovelhas) sobrecarregamos a soma total de todos os outros vertebrados terrestres num rátio superior ao 50:1. O continuum entre a civilizaçom humana e a comunidade terrestre —quanto menos até o de agora— foi encaminhado numha soa direcçom.

Visível / Invisível

Conhecemos muitas externalidades do comércio humano apenas polo que lemos delas. O dia de hoje semelha muito semelhante ao dia de onte. Ainda, a França (além de outros países) tem perdido 1/3 da sua populaçom de paxaros nos últimos 15 anos por mor da diminuiçom de insectos, provavelmente devida aos praguicidas); nas suas augas, as criaturas marinhas de até 10 kilómetros de profundidade registam mais concentraçons químicas tóxicas que nos poluídos rios chineses; temos perdido o 50% das populaçons animais desde a década de 70, etc. A contagem de esperma humano dos países desenvolvidos tem caído ~50% na passada geraçom. O océano perdeu 2% do seu oxigénio nos passados 50 anos; nós adoito ponhemos o nosso foco (naturalmente) no visível; mas o invisível, na actualidade, conta-nos umha estória desacougante.

Os 21 pontos precedentes podem estar, e vam estar, apoiados nas demonstraçons da ciência moderna num sítio web interactivo. Os pontos que desenvolvo a seguir som as implicaçons lógicas das sínteses anteriores, mas som apresentados como conclusons de meu.

Antom Santos

Cultural

Jogo / Plano

Na cultura moderna actual, nós cooperamos a várias escalas —individuais, nacionais, empresariais— para maximizarmos a obtençom de excedente (lucros económicos). Assim que compreendemos isto, concluímos que: 1) Todos os bens e serviços que levam a outputs requerem antes do mais umha conversom primária dos recursos; 2) O Produto Interior Bruto tem umha correlaçom funda com a energia; e 3) Para se fornecerem serviços cerebrais a tanta gente quanto possível, governos e instituiçons fam todo o que podem para manter o acesso a crescentes níveis de energia (criaçom de crédito, mudança das leis, avais…). O indicativo comumente utilizado, chamado Produto Interior Bruto adquire deste ponto de vista umha conotaçom diferente. Para umha aproximaçom razoável, o PIB poderia ser renomeado como PCB (Produto de Combustom Bruta), desde que por baixo de qualquer transacçom económica, um pequeno lume é prendido nalgures na Terra. Se adoptarmos umha vista de paxaro, a sociedade moderna humana está a agir de maneira semelhante a umha estrutura dissipadora de energia. Focando apenas os nossos esforços colectivos nos lucros de curto prazo, assumimos tacitamente que os melhores futuros vam chegar naturalmente. Mas observando-os dumha perspectiva de Produto de Combustom Bruta, o mercado nom pode utilizar umha perspectiva inteligente: pode apenas marchar cara diante em prazos de três meses de cada volta. O jogo —quanto menos até o de agora— é também o plano.

Estreito / Amplo

Cada problema que deparamos tem distintas respostas certas, dependendo da amplitude da perspectiva que utilizamos. Nós podemos esculcar o impacto dumha política de transporte sobre o condutor dum taxi, sobre a empresa de taxis, sobre o sistema de transportes da cidade de Nova Iorque, sobre a própria cidade de Nova Iorque, sobre os Estados Unidos, sobre o mundo de hoje, sobre as futuras geraçons, sobre os ecossistemas, etc. Os mais dos graves problemas actuais som analisados com amplitude de perspectivas, mas a maioria das decisons acometem-se a partir de limites estreitos.

Finanças / Ciências naturais

No século XX temos construído infraestruturas e expectativas sociais derivadas de critérios financeiros e económicos, mas os critérios das ciências naturais e da ecologia —produtividade primária, cadeas tróficas, capacidade de cárrega, desbordamento, colos de garrafa, cámbios de fase, sucessom, ritmos…— vam ser muito mais pertinentes no século XXI.

Ilimitado / Limites

Imagine um mundo com 7.600 milhons de seres humanos e sem leis. Sem limites de velocidade, sem impostos para infraestrutura pública, sem regras, sem tribunais de justiça. Os humanos institivamente temos problemas para limites auto-impostos. Entom, através de contratos sociais e reciprocidade, temos aprendido a reconhecer a importáncia de tais instituiçons, e como resultado disso, a sociedade é mais feliz. Ainda que temos reconhecido a importáncia das regras e da limitaçom do comportamento pessoal e do impacto, ainda nom temos madurado para reconhecer limites para a sociedade e a cultura em sentido amplo. Mas nós moramos num planeta finito.

Guerra / Paz

Historicamente, em tempos de menos recursos per capita, as primeiras sociedades humanas (e as tribos antes delas) fôrom à guerra. Mas este continuum é tam evitado decote nas conversas, que deve ser mentado. Nós iremos de novo à guerra se nom nos amanhamos para resolver os constrangimentos do futuro dum modo construtivo, e há maneiras de fazê-lo. Desta volta, a guerra iria ser muito mais devastadora do que foi nunca na história da humaniade. Existiram movimentos anti-guerra no passado, e esperançosamente, estes abrolharám no futuro. Aliás disso, que percentagem do tesouro inesperado do carbono fósil estám dedicados directamente ao gasto militar? E num mundo em paz, aonde iria dirigida esta riqueza?

Populaçom / Consumo

Somos 7600 milhons em caminho para chegarmos a 9000-10000 milhons. As Naçons Unidas (e outras instituiçons internacionais) nom compreendem em toda a sua magnitude a importáncia chave da energia sobre todas as economias humanas. Implica umha economia baixa em carbono umha descida substancial da populaçom neste século? Nom. Nom sendo que algum dos Quatro Ginetes do Apocalipse aparecer, o cenário bem mais provável é umha alta populaçom a se manter com menos recursos per capita (quiçá consideravelmente menos). Malthus estava certo, mas desconsiderou a revoluçom vertical dos carbonos fôsseis. Ehrlich estava certo, mas desconsiderou a globalizaçom e o nascimento dos mercados de crédito, que antecipam recursos no tempo. Quiçá alguém, hoje, ao escuitar esta estória, aguarde enormes quedas da populaçom dado o constrangimento dos recursos. E esta pessoa estaria certa também, mas nom levaria em conta que a descida se vai dar mais em termos de consumo que de populaçom. No mundo desenvolvido, onde as pessoas gastam em bens de consumo 50 ou 100 vezes o que gastam em alimentaçom, existe umha ampla margem para o consumo descer sem isto atingir o bem estar. Logo, menos consumo é ainda viável, e mesmo desejável. Com 350000 novos nascimentos cada dia, mas com 350000 pessoas a entrar também cada dia na classe média global, com umha taxa de transferência ~5:1 meirande que a meia, o problema da populaçom iria adquire umha outra dimensom.

Inteligência / Sabedoria

A história humana está inçada de culturas exitosas que simplesmente interpretam radicalmente mal o quadro geral no que se movem. Os habitantes da Ilha de Páscua criam que os recursos abrolhavam da boa vontade dos seus devanceiros, entom para eles era lógico curtarem todas as árvores para a construçom de cabeças de pedra ainda mais grandes. O seu comportamento era inteligente, mas nom sábio.

A nossa cultura, de maneira semelhante, premia pontos de vista reducionistas e deixa a soluçom dos problemas em maos de expertos. Mas na medida em que recompensamos os especialistas, fechados no interior dumha disciplina, perdemos a sabedoria que procede do cruzamento de saberes. Por dizermo-lo com singeleza, inteligência e sabedoria trabalham melhor em sinergia. Os humanos modernos, com ampla inteligência, mas umha notável carência de sabedoria, arriscam-se a ser idiotas letrados, metaforicamente movendo alavancas de maneiras mais inteligentes, que na realidade construem versons modernas das cabeças de pedra de Rapa Nui.

Trivialidade / Releváncia

O nosso sistema educativo está a virar menos relevante para o futuro que defrontamos. A educaçom primária e secundária som o produto dum excedente energético. Paradoxalmente, também som um dos poucos investimentos que podem contribuir para um excedente do futuro. O ensino, focado com umha perspectiva inteligente, poderia concentrar-se em sínteses científicas, na compreensom das nossas mentes, nos princípios ecológicos, para assumir a incerteza, e para fornecer habelências que solventarem os problemas que irromperám progressivamente numha sociedade de menor taxa de transferência energética. Umha menor especializaçom e umha compreensom sistémica devessem ser as obrigas do dia de hoje.

Dinheiro / Humanidade

De entre a moreia de estímulos extraordinários que aturamos na cultura moderna (redes sociais, Twitter, Overwatch, máquinas caça níqueis, ou comida lixo), quiçá a mais perniciosa som os dólares. Temos ultrapassado para o inteiro inventário do que nos fixera funcionar em condiçons tribais sobre dúzias de milheiros de anos para simplificá-lo numha variável: marcadores de estatus e sucesso em formato digital ou físico.

É certo que precisamos moeda para transaccionarmos e acumularmos dinheiro, mas a nossa cultura levou-no a um extremo que conlevou a quase total financeirizaçom da vida humana. Um ainda espera que um amplo leque de expressons da humanidade lateje por baixo dos montes de dígitos electrónicos…

Bem / Mal

Os seres humanos nom somos maus, nom mais do que os lobos ou os gnus. Porém, com o peso de 8000 milhons, a perseguirmos excedentes a partir de fontes finitas e cada vez menor capacidade de sumidouro, as nossas acçons tenhem derivaçons malignas. É importante nom confundir o nosso impacto colectivo com o que tenhem as nossas formas de vida individual. O que está a acontecer nom é a nossa culpa individual, mas todos nós somos cúmplices.

Dever / Poder

Muita gente está a promover campanhas em favor do que a nossa sociedade deveria fazer para solventar a nossa miríada de problemas económicos e ambientais. Mas a maior parte de tais receitas —embora com objectivos louváveis— é incompatível com a nossa realidade física, ou com padrons de comportamento adquiridos por milhares de anos. Contar com umha revelaçom súpeta dum bem maior por parte dumha maioria da populaçom é algo que os activistas do ecologismo levam fazendo desde os anos 60, e os activistas contra a mudança climática ao longo das últimas duas décadas; mas nós ainda estamos a emitir mais CO2 cada ano que passa. É improvável prepararmo-nos em massa para a Grande Simplificaçom que temos por diante; as barreiras culturais, psicológicas e sistémicas som grandes demais. Quanto a umha mudança planejada, nós poderemos em troca reagir e respostar. No canto de optarmos por perspectivas nom realistas, nós podemos pôr o nosso esforço em mudarmos as condiçons iniciais que vam resultar em melhores perspectivas, e entom fazermos novos movimentos de fichas que, no taboleiro de jogo actual, nom som possíveis.

Popular / Realista

Mesmamente, um repasso global da severidade dos nossos graves problemas —na rádio, no tevê, em documentos académicos— nunca vai ser popular. É muito mais confortável (e proveitoso) estar entretido, ensarilhado no consumo, e recebendo promessas diversas de soluçons artificiais, adoito relacionadas com tecnologias nom ensaiadas, com o uso de tecnologia além de toda escala sensata, ou mesmo baseadas em andrómenas que ignoram as ciências naturais. Devêssemos reconhecer que estas soluçons simplórias, na realidade nom som soluçons. Mas reconhecer isto seria… desacougante e impopular.

Direita / Esquerda

Nom sendo no que atinge à mudança climática, quer os democratas, quer os republicanos, estám bem longe de alviscarem os nossos iminentes desafios. O esgotamento dos recursos, o abusso do crédito, e os riscos sistémicos que conleva estám ausentes de todo debate político. Pola contra, umha energia substancial (e velenosa) pom-se sobre aspectos que dividem fundamente umha sociedade de seu polarizada. Chegará um dia, aginha, no que apreciaremos (para nos comprometer) com os assuntos nos que os mais de nós concordamos: necessidades básicas, família e amizades, comida saudável, paz, respeito, sentido, e um ambiente seguro e limpo para se criarem os nossos netos e netas. Seguindo tal razoamento, os debates actuais entre republicanos e democratas som semelhantes a discutir sobre que repelente de mosquitos é o melhor para botarmos nos braços, enquanto a nossa perna está dentro da boca dum crocodilo.

Masculino / Feminino

Vivemos num mundo dominado pola cultura masculina. Como resultado, entre outras cousas, a testosterona e a dopamina provavelmente influem a tomada de decisons mais do que a oxitocina e a serotonina. As mulheres —por razons biológicas óbvias— tendem a ter umha avaliaçom de riscos mais ampla do que os homens (os feitos do futuro pesam mais para elas). Desde que os mais dos riscos da nossa sociedade nom vam decorrer neste trimestre ou neste ano, senom no futuro, quiçá devêssemos encorajar, apoiar e encarregar o liderado a umha percentagem mais alta de pessoas com perspectivas longas, isto é, mulheres. O certo é que nom sei como se poderia fazer isto (mas eu som um homem).

Economia / Meio ambiente

Se você puidesse criar umha listagem das melhores dez maneiras de melhorar o meio (por exemplo, taxa às emissons de carbono, proteçom das zonas de pesca internacionais, imposiçom ao transporte…), cada umha das dez seria provavelmente má para o crescimento económico. Do mesmo modo, umha listagem das dez melhores medidas para favorecer a decolagem económica (financiamento da natalidade, rebaixa de impostos), provavelmente iria piorar a situaçom ambiental no macro e no micro. Neste século, imos encarar processos constantes de tomada de decisons (ou de nom tomada de decisons, apenas de acçom) num abano entre o que é melhor para o crescimento económico, e o que é melhor para os ecossistemas planetários e o nosso bem estar futuro. É provavelmente bom sermos cientes (e preocuparmo-nos) disto com antecedência.

Direitos / Responsabilidades

Tem havido inúmeros contratos sociais na história humana. Desde o Código de Hammurabi, há 3500 anos, até a Carta Magna e a Constituiçom dos EUA, os seres humanos tenhem criado amiúde regras e linhas de acçom para estabelecer ajeitadamente as necessidades e as circunstáncias de cada época histórica. Agora habitamos um planeta ecologicamente saturado e somos conscientes de quem somos, de onde vimos, do que precisamos, do que queremos e do que estamos a fazer —entre nós e em relaçom ao nosso contorno—. Como este pano de fundo, existe umha distinçom entre direitos e responsabilidades. Este continuum vai seguir a ser adiado até passar forçosamente ao centro das preocupaçons.

Grupos pequenos / Grupos grandes

Os seres humanos unem forças para cooperarem em tarefas simples e claras como a procura dos benefícios ou a defesa militar. Mas de maneira contraintuitiva, a inteligência e a habilidade para sermos criativos ante angueiras complexas nom se incrementa com o aumento do tamanho do grupo. Assim que os grupos viram mais e mais grandes, eles também viram menos capazes de apreixar e conduzir assuntos complexos, por nom falarmos da sua capacidade minguante para respostarem ante eles. Na escala de milhares e milhares de pessoas num grupo ou organizaçom, o comportamento resultante deriva naquelas respostas que som mais simples e universalmente aceites (pense você em qualquer ONG adicada à questom ambiental ou social). Isto tem vastas implicaçons para muita gente que se preocupa com a mesma questom e oferecem o que pensam umha boa alternativa. Esta fasquia tem umha importáncia capital para a plétora de riscos actuais que defrontamos. Quando se trata de levar as cousas a cabo —nomeadamente empresas complexas, cheias de matizes, e quiçá impopulares— os indivíduos e os grupos pequenos tenhem muito mais poder do que eles acham para influirem nos acontecimentos).

Individual

Certeza / Provabilidade

O futuro existe como umha distribuiçom provável do muito mau, do mau, do assim-assim, o benigno, e o muito bom. Mas muita gente rejeita a incerteza. Quando escuitamos prognósticos sobre todos estes cenários em relaçom com a energia e o meio ambiente, habitualmente a) rejeitamos ou negamos as suas implicaçons utilizando racionalizaçons tais como “a tecnologia vai solucioná-lo” / “já pensaremos nalgumha cousa…”, ou b) “é tarde demais, nom há nada que pudermos fazer —nada— desfruta a vida tanto como puderes”. Estas reacçons semelham opostas na tona, mas tenhem duas cousas em comum : 1) criam certeza que resolve as dissonáncias nas nossas mentes e, pola contra b) obviam a necessidade de resposta pessoal e compromisso (que poderiam ser incómodos no emocional e no físico). Mas a realidade é que o futuro nom está determinado ainda, e existe como um conjunto de provabilidades mudáveis dependentes dos acontecimentos, a tecnologia, a sabedoria, o risco e as acçons de pessoas e comunidades. Precisamos mais e mais gente a evitar os dous polos que constituem a negaçom e o niilismo; para ficarmos no centro, admitir um chisco de dissonáncia, e comprometermo-nos.

Menos / Mais

Temos mercantilizado a totalidade da experiência, virando toda a substáncia, fondura e sentido do nosso passado tribal em marcadores electrónicos e de papel. Assim que as nossas necessidades básicas se acham cobertas, realmente nom queremos mais nada; simplesmente queremos ter mais do que o gajo ou a moça que vive ao nosso carom. Agora estamos provavelmente encaminhados cara um mundo com menor taxa de transferência física, quigermos ou nom. Mas isto nom significa termos um mundo de menos experiências, felicidade, sentido ou vida boa. O guatemalteco médio ganha por baixo de 10000 $ por ano, mas tem uns níveis de satisfaçom e qualidade na sua experiência equivalentes aos de países com níveis de ingressos 5 ou 10 vezes maiores. Os norteamericanos e norteamericanas utilizam 38 vezes mais energia que as habitantes das Filipinas, mas som igualmente felizes segundo a sua medida do bem estar. Os norteamericanos som de longe mais ricos em termos materiais do que eram há 50 anos, mas acham-se menos satisfeitos com as suas vidas. As noçons de menos e mais devem ser repensadas além do seu valor monetário, e superando o valor que espontaneamente lhe temos dado até hoje.

Como indivíduos podemos pular por ser mais felizes com bens absolutos, focando-nos menos naquilo que é relativo (isto supom certo adestramento e esforço).

Doído / Sensato

Tendo aumentado 50 vezes os ingressos dos seres humanos de dous séculos antes, nom abraia que o norteamericano ou norteamericana média esteja tam distraído polas comodidades, e acalmado por falsas narrativas que o mantenhem dormido ante os problemas reais. As pessoas nom somos idiotas nem somos (na maior parte dos casos) mentireiras. Mas o certo que somos amiúde seduzidas e desinformadas por aquelas narrativas simples que aqueles que advertem sobre as macro crises convergentes som considerados doídos pola opiniom dominante. Mas estarmos alerta dos problemas do presente é quiçá o único caminho para a cordura. Admitirmos um chisco de desacougo e dissonáncia sobre o que se passa é eminentemente racional, mesmo se isto nos fai sentir mal por vezes. Se preocuparmo-nos com a Sexta Extinçom massiva, a descida energética, os limites ao crescimento e a próxima Grande Simplicaçom vira-nos doídos, pois bem, quiçá o mundo precisa bem mais doídos. Temos confundido temporalmente loucos e cordos.

Diversom / Sentido

Consumindo 80 vezes mais energia do que os nossos corpos precisam, como se possuíssemos o metabolismo de primates de 30 toneladas, mesmo os mais medianos entre nós vivem estilos de vida que estám por riba dos mais de reis e rainhas de há séculos. E ainda, a maioria da gente sente-se desgraçada, sobre-alimentada, sobre-medicada e enfeja. O que nos falta baixo esta variedade de riquezas materiais é o sentimento de comunidade e um verdadeiro sentido de propósito. De todo o que se leva exposto nesta apresentaçom deduze-se que o futuro precisa da nossa ajuda. Mesmo se a maioria da gente nom tem nem conceito nem crença no futuro. Porventura a consciência da nossa situaçom, dos riscos e das possibilidades, fixer emerger umha grande tribo conectada com o Amanhá.

Pensar / Fazer

Num mundo de entretimentos acessíveis, chegamos a afazer-nos a grandes gastos de tempo. Botamos umha cantidade considerável do nosso tempo a debulhar teorias esotéricas, ou a fedelhar com trebelhos electrónicos sem aprender nem compreender habilidades manuais. Assi que os nossos escravos fôsseis deixem de funcionar, deveremos ir resubstituindo o carbono por trabalho humano; e isso incluiria que cada um de nós aprendesse um ou dous trabalhos manuais. Ou três.

Sofrimento / Ledice

Gostamos de estórias felizes, despreocupadas, imaginativas, bem, porque isso é confortável: estarmos felizes e livres de cárregas. Parte de nós sabe que as cousas nom som assim tam singelas, e luitamos por negar esse medo em cousas que nos envolvem num casulo de conforto. Porém, a situaçom do mundo actual, beirando os limites sociais do crescimento, banindo do mundo natural várias espécies a ritmo de vertigem, nom fam doada umha conduta despreocupada.
Resulta aceitável —e mesmo apropriado— levar com nós algum sofrimento e algumha dissonáncia sobre a situaçom que encaramos, pois trata-se dumha situaçom perigosa. Acompanhar este sofrimento com raiva e criatividade poderia ajudar-nos a acadar esses objectivos interrelacionados do futuro. Mas também precisamos equilíbrio. Namentres assumimos o sofrimento, precisamos tempo para despexar a névoa das nossas mentes, com variedade de formas: música, séries, cerveja, cans, monecos, céus nocturnos, velhas fragas e amizades fundas. É um tempo maravilhoso e perigoso para ser vivido. Nom esqueçamos as partes maravilhosas.

Intrínseco / Extrínseco

Os seres humanos temos um amplo leque de valores para escolher e defender. Nós desenvolvemos a capacidade para gerir valores extrínsecos (impostos polo nosso entorno) como o poder, a riqueza e o status; mas também para desenvolver valores internos como a compaixom, a humildade, a gratitude e a empatia. As acçons baseadas no extrínseco, tais como ganhar umha discussom, acadar poder sobre outros indivíduos ou comprar umha casa de banho laminada em ouro libertam um poderoso pulso de dopamina, um sentimento intenso, mas que apenas dura segundos ou minutos. Estes métodos externos para sentirmo-no bem levam decote ao sobre uso e à procura constante. Em contraposiçom, os valores intrínsecos vencelham-se à libertaçom sostida da oxitocina, umha das quatro substáncias químicas da felicidade que emite o nosso cerebro. A pesquisa em psicologia social vem confirmando que a prática da gratitude, a compaixom e a humildade na nossa vida diária devém em sentimentos assentes de felicidade e ledice. Com certa auto-consciência e desejo de mudança, podemos desenhar as nossas vidas para obtermos doses sostidas de felicidade e ledice alicerçadas em valores intrínsecos.

Esperança / Desespero

O feito de um sentir esperança ou desespero depende sempre da perspectiva da que parte. Se você espera 12000 milhons de pessoas a viverem como o norteamericano médio no ano 2100, com carros voantes e todos os problemas climáticos e oceánicos resolvidos através de engenhos tecnológicos, entom o futuro que aqui gizamos poderia resultar medonho. Se, pola contra, você alvisca um mundo com 5000 ou 6000 milhons de habitantes, a viverem numha sociedade de tecnologia básica apoiada em sistemas de energia renovável, na que apenas perdêssemos 1000 de 5500 espécies de mamíferos que ainda permanecem, na que a suba da temperatura se estabelecesse baixo os 2º, e na que evitássemos guerras nucleares, entom haveria motivo para termos esperança: um futuro assim, e outros muitos semelhantes, som ainda possíveis.

Conclusons

Nom podemos conhecer o futuro, mas podemos ter umha confiança crescente naquilo que o futuro nom vai ser. E a minha própria conclusom é que a vindoura Próxima Duplicaçom é algo que nom vai acontecer.

Fai-se todo o possível para manter a os serviços cerebrais em funcionamento para quantos mais eleitores possível, polo maior tempo possível. Somos gente industriosa e criativa, o suficiente para este modelo continuar por algum tempo, mas existem limites físicos. A cara escura disto é que, trás devotarmos décadas de forçar a máquina, isto vai-nos abocar a umha reavaliaçom forçosa dos objectivos económicos em relaçom com os recursos físicos disponhíveis. A maioria dos nossos trabalhos de pesquisa apontam para umha reduçom do PIB das economias avançadas dum 25-40% nas próximas duas décadas. Este desenlace, semelhante à Grande Depressom da década de 30, poderia resultar chocante ao primeiro. Sem embargo, ao situarmo-lo no seu contexto, isto poderia supor que o PIB per capita poderia descer aos níveis de meados da década de 80 ou primeiros da década de 90. Estes nom fôrom, na verdade, tempos de depressom. Se os compararmos com os anos 30, onde o 30% da queda do output supujo pobreza real para muitos e muitas, o maior desafio com tal panorama nom é tanto a reduçom do consumo (que ainda se manteria em níveis altos), mas as subsequentes derivaçons para o trabalho, a igualdade dos ingressos, as expectativas económicas e a coesom social.

Estes riscos nom caem baixo os auspícios de nenhuma instituiçom ou governo —e para piorar ainda as cousas— representam quase a tormenta perfeita cognitiva para ser ignorada ou rejeitada: quer dizer, é complexa, abstracta, distante (no tempo), sem resposta doada, e certamente sem tampouco respostas políticas fáceis.

Todas as observaçons culturais e individuais desenvolvidas neste texto convergem num ponto muito preciso: somos capazes de muito mais, mas nom somos quem de alterar a nossa trajectória actual até que somos forçados a fazê-lo. E quando convergem os aspectos da economia e do meio ambiente, imos ser forçados aginha. Se reconhecermos isto, o seguinte chanço é discutir com urgência e fazer um inventário de iniciativas que puiderem funcionar na escala de pequenos grupos com visom inteligente e de alcanço nacional.

Desde que nós temos um buffer de excedente exosomático de ~100:1, ainda resta umha grande possibilidade de futuros benignos e mesmo excelentes que som realizáveis. Mas eles nom chegam sem esforço. O mundo nom esboroou ainda de maneira inevitável, a Grande Simplificaçom acaba de começar, e há bastante gente que está a descobrir com exactidom o alcanço dos nossos atrancos, e a natureza das medidas que poderiam resolvê-los.

Note-se bem: Se bem é certo que eu acredito que o ensino, por si só, é insuficiente para transformaçons de calado, é ainda um primeiro chanço preciso para cidadaos e cidadás comprometidas trabalharem cara objectivos realizáveis e desejáveis, reagindo aos acontecimentos de maneira racional. O meu próprio objectivo neste campo apoia-se em três piares:

  1. Educar e inspirar quem poderiam ser catalisadores, e pequenos grupos a desenharem melhores futuros, para lhes achegar umha visom da realidade mais integrada e sistémica.
  2. Dar poder a indivíduos para fazerem melhores escolhas pessoais e navegarem e prosperarem durante a Grande Simplificaçom, que já irrompe no horizonte.
  3. Mudar os lugares comuns da nossa conversa ordinária e tópica para passar a basear-nos na realidade.

Caro leitor/cidadá, convido-te a participares no futuro.

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Ex-vicepresidente de Salomon Brothers y Lehman Brothers y ex-editor principal del web The Oil Drum. Profesor en la Universidad de Minnesota y miembro del Post Carbon Institute, la Bottleneck Foundation, el IIER y el Institute for the Study of Energy and the Future. Activo conferenciante sobre la relación entre los mercados financieros y los recursos naturales, especialmente la energía.

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